QUANDO O POETA NÃO DEIXOU
DE CANTAR COM O CORAÇÃO,
MESMO POSTO E IMPOSTO
DENTRO DAS CELAS ESCURAS,
NO TEMPO AMARGO DA REPRESSÃO.
UMA ÉPOCA DIFÍCIL DE DIZER
O QUE SE QUERIA SER,
DE CANTAR E FAZER CANÇÕES.
FAZER POESIAS, FALAR NAS PRAÇAS, NAS GALERIAS,
DO DOMINGO NO PARQUE, COM O AMIGO JOÃO.
MENINO EU JURO QUE VI E OUVI AQUELA CANÇÃO.
TINHA UM PEDIDO URGENTE
DE DENTRO DA CELA FRIA.
QUE AFASTASSE AQUELE CÁLICE AMARGO
DO POVO, DO POETA, DO CANTOR.
LÁBIOS MOLHADOS E AVINAGRADOS.
GOSTO ÁCIDO DE UM VINHO AZEDADO.
FARDO PESADO CALANDO A FORÇA,
TODA A PALAVRA PRÓXIMA A BOCA
E DENTRO DO CORAÇÃO.
EU VI QUANDO O POETA PARTIU.
FOI PARA AS TERRAS FRIAS,
SONHANDO QUE VOLTARIA
NO EXPRESSO 2222
POR LÁ VIVEU COMPONDO, CANTANDO
POR LÁ CANTOU EMOLDURANDO
A BRUTALIDADE COM DELICADEZA.
COM UM ABRAÇO DADO COM SAUDADE
AOS AMIGOS SUMIDOS PARA NUNCA MAIS.
NO EXÍLIO JUNTOS,
QUATRO CAVALEIROS DO APOCALIPSE.
DOCE BÁRBARO NEGRO LINDO…
CONTOU-NOS DEPOIS, SORRINDO
QUE SE INSPIRAVA ESCONDENDO AS LÁGRIMAS,
DEBRUÇADO SOBRE SEU VIOLÃO.
CANTANDO COMO TROVADOR PARA A MULHER AMADA.
NA FORÇA SECRETA DAQUELA ALEGRIA MARCADA
SONHANDO COM O REGRESSO À TERRA AMADA.
Razanil Shamir
140211
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