“O UNIVERSO É UM BERÇO ONDE UMA CRIANÇA DORME !”
A
estrela iluminava uma gruta. Os reis se aproximaram Na gruta havia
vacas, cavalos burros, ovelhas. Era uma estrebaria. Mas, junto com os
animais, uma pequena família: um jovem e uma jovem que amamentava um
nenezinho recém-nascido. Era só isso. Nada mais.
Perceberam que haviam
se enganado: não era a estrela que iluminava a cena. Era o nenezinho que
iluminava a estrela. E olhando bem para ela puderam ver, nela refletido
como num espelho, o rosto da criancinha. E disseram: “O universo é um
berço onde uma criança dorme!“.
Aí uma coisa estranha
aconteceu: ao olhar para o nenezinho os reis perdiam a sua compostura
real; eram dominados por uma vontade incontrolável de rir. E quando
riam, ficavam leves e começavam a flutuar. Era assim: quem visse o
menino se transformava em anjo...
Os reis, em meio aos risos e voos, olharam cada um para o outro e disseram: “Nossa busca chegou ao fim. Encontramos a alegria. Para se ter alegria é preciso voltar a ser criança...“. Ato contínuo tomaram suas coroas, capas de veludo, dinheiro, ouro, joias – coisas de adulto - e as depuseram no chão, ao lado das vacas e dos burros... Eram pesadas demais. E partiram leves, ora andando, ora pulando, ora voando, mas sempre rindo.
“Vou mudar de vida“, disse Gaspar. “É horrível ter de estar estudando ciência o tempo todo. Vou me transformar em poeta...” · “Eu também vou mudar de vida“, disse Baltazar. “É horrível estar rezando o tempo todo. Vou ser palhaço. O riso é o início da oração.” ·Ao que Mélkior acrescentou: “E eu descobri o prazer supremo, que vem sempre acompanhado de alegria : brincar. Vou ser um fabricante de brinquedos. Quem brinca volta a ser criança. E quem volta a ser criança está de volta no Paraíso.“.
E assim partiram, cada um por num caminho. E se você, nas suas andanças, se encontrar com um poeta, um palhaço ou um fabricante de brinquedos, pergunte se ele não tem notícias de uns três reis...
Os reis, em meio aos risos e voos, olharam cada um para o outro e disseram: “Nossa busca chegou ao fim. Encontramos a alegria. Para se ter alegria é preciso voltar a ser criança...“. Ato contínuo tomaram suas coroas, capas de veludo, dinheiro, ouro, joias – coisas de adulto - e as depuseram no chão, ao lado das vacas e dos burros... Eram pesadas demais. E partiram leves, ora andando, ora pulando, ora voando, mas sempre rindo.
“Vou mudar de vida“, disse Gaspar. “É horrível ter de estar estudando ciência o tempo todo. Vou me transformar em poeta...” · “Eu também vou mudar de vida“, disse Baltazar. “É horrível estar rezando o tempo todo. Vou ser palhaço. O riso é o início da oração.” ·Ao que Mélkior acrescentou: “E eu descobri o prazer supremo, que vem sempre acompanhado de alegria : brincar. Vou ser um fabricante de brinquedos. Quem brinca volta a ser criança. E quem volta a ser criança está de volta no Paraíso.“.
E assim partiram, cada um por num caminho. E se você, nas suas andanças, se encontrar com um poeta, um palhaço ou um fabricante de brinquedos, pergunte se ele não tem notícias de uns três reis...
(RUBEM ALVES - Transparências da eternidade, Verus, 2002)
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